MATERIA DE CAPA

Da TV para o 1º lugar no rádio

O que seria da famosa viúva Porcina (Regina Duarte) em "Roque Santeiro" (1985) sem "Dona", do Roupa Nova, ou de Jade (Giovanna Antonelli) e Lucas (Murilo Benício) em "O Clone" (2001) sem "A Miragem", de Marcos Viana, aquela do verso "somente por amor, a gente põe a mão no fogo da paixão"?

Há tempos, as trilhas sonoras das novelas marcam época e mostram seu potencial de se transformar em sucesso. Prova disso é que o ranking das dez músicas mais tocadas nas rádios do Brasil em 2008, divulgado pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição) neste mês, traz sete faixas tocadas nos folhetins. As três que não fazem parte desse grupo são "Boa Sorte (Good Luck)", de Vanessa da Mata (que estourou com "Ai Ai Ai" em "Belíssima", de 2005) e Ben Harper, "Don't Stop the Music", de Rihanna, e "Coração Bandido", de Leonardo.

Dona da terceira faixa mais executada nas rádios no ano passado, a romântica "Coisas que Eu Sei", Danni Carlos diz que deu sorte pelo fato de a canção ter sido o tema do casal Júlia (Débora Falabella) e Evilásio (Lázaro Ramos), de "Duas Caras" (Globo). "Ter música em novela é bacana quando os personagens têm carisma. Mais do que estar em uma trama, a canção fazia parte de um núcleo muito forte", analisa a cantora, que tem carinho pela faixa. "Foi a primeira que cantei em português. Chorei quando ouvi pela primeira vez", conta. Quando perguntada se gostaria de integrar outra trilha sonora de novela, Danni não titubeia: "Com certeza. A música vinculada a qualquer outro tipo de arte é muito legal para o artista".

Além de ter atuado em "Água na Boca" (Band), D' Black é o responsável por "Sem Ar", tema dos protagonistas do folhetim e que ocupa a quinta posição entre as mais tocadas de 2008. "Em tudo o que a música se envolve, ela se expande. A mensagem da canção se encaixou na história no momento certo", analisa o músico. Segundo ele, a faixa foi de vital importância para sua carreira. "Foi meu primeiro carro-chefe. Com ela, ganhei um prêmio de artista revelação no programa 'Domingão do Faustão [Globo]'", comemora.

Os sertanejos Victor e Leo, donos do hit "Tem que Ser Você", da trilha de "A Favorita" (Globo), reconhecem que ter uma música como tema de Céu (Deborah Secco) ajudou a transformá-la em hit. "Não há dúvidas de que a canção, que já era muito bem-aceita pelo público, passou a ser bem mais fervorosamente cantada depois do belo trabalho a que se somou, de Deborah Secco e Thiago Rodrigues", diz Victor.

Autor do livro "A Trilha Sonora da Telenovela Brasileira", Rafael Righini diz que o sucesso das trilhas pode ser justificado: "A TV é o grande veículo brasileiro. Tudo o que ela mostra vira lei. Além disso, hoje em dia as novelas são vitrines. Esta história de os folhetins serem um gênero menor é coisa do passado", diz.

Sertanejos são destaque na lista dos líderes de direitos autorais

Cada vez mais forte no cenário musical brasileiro, o gênero sertanejo não para de surpreender. Além de aparecer com duas músicas entre as dez mais pedidas em rádios de todo o Brasil no ano passado, os sertanejos se posicionam bem entre os artistas que mais receberam direitos autorais nas rádios AM e FM em 2008.

De acordo com um levantamento feito pelo Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição), o ranking dos dez artistas que mais arrecadaram direitos autorais traz quatro nomes sertanejos. São eles: Vitor Chaves, da dupla Victor & Leo; Rick, da dupla Rick e Renner; Bruno, parceiro de Marrone; e Zezé Di Camargo. Eles estão respectivamente na primeira, na segunda, na quarta e na sexta posição. Somente em terceiro lugar aparece Roberto Carlos; em seguida vem Caetano Veloso, em quinto; Djavan, em sétimo; Vanessa da Mata, em oitavo; Erasmo Carlos, em nono; e Nando Reis, fechando a lista, em décimo lugar.

Acostumado a aparecer entre os artistas com maior rendimento autoral, Zezé Di Camargo diz que estar na lista é um privilégio e um reconhecimento. "Estar entre os primeiros é muito bom. Modéstia à parte, essa é uma posição em que sempre estivemos. Essa nova lista é um retrato do Brasil pelo ecletismo musical presente. Fico feliz ainda que o gênero sertanejo esteja entre os primeiros colocados. Isso só reforça o resultado de pesquisas já feitas, que indicam que a música sertaneja é uma paixão nacional", analisa. (Ana Carolina Rodrigues do Agora SP)