quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

MATÉRIA DE CAPA

Eles odeiam o telefone celular

Conheça paulistanos que se renderam à tecnologia, mas detestam conviver com os aparelhos
Marici Capitelli

Embora estejam entre os mais de 166 milhões de usuários do serviço de telefonia móvel no País, eles não suportam quando o telefone toca. Ligar para alguém? Só em situações de emergência e o mais rápido possível. Muitos são os argumentos usados por essa turma para maldizer o aparelho: falta de privacidade, neurose coletiva, exibicionismo, falta de educação, campainhas irritantes, etc.

A advogada Flávia Aguilhar, de 33 anos, não gosta de telefones em geral. O celular, ela detesta. “O que mais me irrita é que as pessoas desvirtuaram a utilidade do aparelho. A importância dele é quando se está fora em uma situação adversa, só que todo mundo fala no celular o tempo todo e não são assuntos urgentes.”

E haja gente falando ao celular. No Estado de São Paulo são mais de 42 milhões de aparelhos, o que significa que existe 1,02 celular para cada habitante, segundo dados da Associação Nacional das Operadoras de Celulares (Acel).

Outro motivo de irritação para Flávia é a insistência das pessoas que telefonam para celular. “Se por um motivo você não pode atender, não deixam recado e ficam ligando insistentemente, querem resolver tudo na hora. Na época do telefone fixo, você tinha que esperar e ninguém morria.”

O marido e alguns amigos já se aborreceram quando ela foi breve na conversa ou não atendeu a ligação. “Então, eu explico que não é pessoal, mas simplesmente não gosto.” Apesar da aversão, Flávia tem celular e usa todo dia para falar com clientes. “É uma necessidade da profissão.” Como ela define o aparelho? “Não pode ser coisa de Deus”, brinca.

“É invenção do capeta”, define o consultor em informática José Sidney Pereira, de 44 anos. Para ele, o principal motivo para não gostar é que o celular o deixa disponível o tempo todo. “As pessoas não têm limites e se sentem no direito de ligar a qualquer hora e por qualquer assunto.”

Pai de três filhos, ele acredita que é necessário separar os momentos de trabalho de outras atividades. “E o celular não permite isso.” Ao contrário de Flávia, não se incomoda com pessoas falando alto ao celular ao seu lado ou as músicas escolhidas como alarme.

“Mas a gente ouve algumas coisas hilárias. Outro dia, ouvi o toque da pamonha de Piracicaba e tive que me segurar para não cair na gargalhada.” O consultor vive esquecendo ou perdendo o celular. “Já larguei nos mais diversos lugares e muitas vezes ele vira brinquedo dos meus filhos.”

Lígia Marques, consultora em etiqueta, diz que falta de educação ao celular é uma reclamação muito pertinente. “Passados mais de 15 anos do aparelho ter entrado em uso, as pessoas ainda não sabem usá-lo.”

Para a escritora e publicitária Taís Vinha, de 44 anos, Deus ajuda as mães desencanadas de celulares. No dia da entrevista, por exemplo, ela não sabia nem por onde andava o seu aparelho, que, aliás, não foi comprado - ela o ganhou. Mas as três vezes que ela viveu situações de emergência com as crianças, milagrosamente, o aparelho estava ligado.

O marido de Taís, que é engenheiro aeronáutico, nem tem celular. “Já aconteceu de ele ir ao mercado e eu lembrar que precisava de algum produto, mas não deu para avisar. Ninguém morreu por causa disso.” Apesar de ser dona de um aparelho moderno, ela vive usando orelhões. “Está sempre sem bateria ou perdido. Tá vendo como não faz falta?”
(Jornal da Tarde)

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