quarta-feira, 9 de junho de 2010

MATERIA DE CAPA

Curtindo o sertanejo renovado

Marcela Munhoz Do Diário do Grande ABC

Se você guarda a imagem dos avós cantarolando modas sertanejas e relembrando como era a vida no interior quando eram crianças, pode rever seus conceitos. Agora é provável que o colega de classe também curta o ritmo, seja integrante de comunidades no Orkut de duplas sertanejas, carregue essas músicas no MP3 e até, quem sabe, faça parte de comitivas.

Apesar de o ritmo ter sido criado no Brasil em 1929, no início desta década surgiu no interior de Minas Gerais e de Mato Grosso um sertanejo reinventado, batizado de universitário. Duplas como César Menotti e Fabiano, João Bosco e Vinícius e Edson e Hudson misturaram o ritmo com axé e funk e aceleraram um pouco a batida da música. O resultado foi apresentado nas faculdades onde estudavam. "É contagiante e isso pode ser um diferencial. Cantamos muitas músicas pra cima e também têm as românticas para as meninas", diz Edson, da dupla Edson e Hudson.

Estratégia de marketing ou não, o som bombou, claro! O sertanejo universitário se espalhou pelo Brasil e conquistou tanto universitários, quanto adolescentes, que adoram uma novidade. Várias duplas com mais ou menos o mesmo perfil - jovens do interior - aproveitaram a onda.

"Na verdade, ninguém sabe definir o que é sertanejo universitário. Acho que fazemos parte de um time que está tentando acrescentar novas intervenções na música sertaneja", afirma Sorocaba, da dupla Fernando e Sorocaba, que têm 24 e 27 anos.

Na opinião de Hugo Pena, 28, parceiro de Gabriel, 26, o aparecimento do ritmo é uma oportunidade para conquistar o animado e agitado público juvenil. "As músicas e melodias atraem os mais novos. É um trabalho moderno, mas que respeita a música sertaneja antiga."

Na opinião de Maria Cecília, que faz par com Rodolfo, ambos 24 anos, não é legal rotular, mas ela admite que a nova onda abriu a porta para muitas duplas. "É uma nova roupagem que está dando mais do que certo."


COMITIVAS REÚNEM FÃS PARA BALADAS CAIPIRAS
Fernando Rodrigues, 15 anos, Carla Simão, 16, e Patrícia Rodrigues, 17, curte sertanejo há muito mais tempo do que os amigos da idade deles. Desde crianças, fazem parte da Comitiva Tô Doidão (em homenagem à música de Rionegro e Solimões), da qual seus pais já participavam. As comitivas sertanejas reúnem grupos de amigos que adoram o ritmo. Eles viajam juntos para participar de rodeios e festas e ainda têm o compromisso de organizar eventos beneficentes.

"O sertanejo sempre fez parte da minha vida. Adoro o ritmo e o clima dos shows. É muito tranquilo, não tem violência. Sinto-me em casa", afirma Carla, que também curte Cláudia Leitte, mas jura que nunca mais vai a uma micareta. "É muita gente doida junto, não combina comigo."

Fã da dupla Fernando e Sorocaba, Patrícia curte as baladas caipiras, como Estância Alto da Serra e Villa Country. "É muito bacana. Danço a noite inteira sem preocupação." Ela já fez aulas de dança country e capricha no figurino para todo evento sertanejo. "Não pode faltar chapéu, cinto com fivelão e bota. Muita loja só vende isso. São várias opções."

Fernando é craque em tocar berrante e, inclusive, já abriu vários rodeios com seu som. Mas, se no mundo sertanejo o garoto é ovacionado, fora dele rola um pouco de preconceito. "Tenho amigos que acham o sertanejo e nosso estilo de se vestir bregas. As pessoas julgam sem saber direito o que estão falando", diz Fernando. Para ele, muitos até gostam, mas têm vergonha de assumir. "Com o sertanejo universitário, isso está começando a mudar. Espero que todos passem a nos respeitar mais." O garoto é fã de Victor e Leo e também curte outros ritmos como samba e rock.

Rótulo causa polêmica

A música sertaneja ficou conhecida por esse nome em 1929, quando o pesquisador e compositor Cornélio Pires começou a gravar fragmentos de cantos tradicionais rurais do interior. "A partir do momento que é gravada e industrializada, não é mais música caipira nem de raiz, é sertaneja", explica Waldenyr Caldas, professor de Cultura Brasileira da Escola de Comunicação e Artes da USP.

O especialista diz ainda que o rótulo de sertanejo universitário é uma estratégia das grandes gravadoras para atrair o público jovem e ganhar mais dinheiro. "A mistura com axé e funk, e o ritmo acelerado atingem outros consumidores. Na verdade, todo mundo pode ouvir e gostar do sertanejo, inclusive os universitários." E isso não é ruim, segundo o professor. "É só mais uma moda, como as outras."

Por causa dessa polêmica, a dupla Victor e Leo não gosta de ser classificada como sertaneja universitária. Eles não se consideram responsáveis pelo movimento e afirmam que não cantam para nenhum tipo específico de público. São apenas sertanejos.

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